segunda-feira, 10 de setembro de 2018

OS BAIXOS PLANOS DO CÉU - A Vida Além do Véu Volume 1


CAPÍTULO I


OS BAIXOS PLANOS DO CÉU


Terça, 23 de setembro de 1913.

Quem está aí?*

Mamãe e outros amigos que vieram ajudar. Estamos progredindo muito bem, mas não podemos transmitir-lhe todas as palavras que gostaríamos ainda, pois sua mente não está relaxada e passiva como gostaríamos.

*As perguntas e comentários do Sr. Vale Owen estão em itálico

Diga-me alguma coisa sobre seu lar e sua ocupação.

Nossa ocupação varia de acordo com a necessidade daqueles a quem auxiliamos. É variado, mas dirigido para a elevação dos que ainda estão na vida terrena. Por exemplo, fomos nós que sugerimos a Rose a criação de um grupo de pessoas para virem auxiliá-la no caso de ela sentir qualquer perigo quando estivesse no quarto escrevendo enquanto movíamos sua mão, e este grupo está agora encarregado do caso dela. Ela não sente, às vezes, a presença deles próximos a ela? Ela deveria, porque eles estão sempre alerta ao seu chamado.

Sobre nosso lar. É muito brilhante e lindo, e nossos companheiros das esferas mais altas têm sempre vindo a nós para nos animarem a seguirmos em nosso caminho para frente.

Ocorreu um pensamento em minha mente. Eles podem ver estes seres dos planos mais altos, ou acontece a eles o mesmo que conosco? Posso dizer que aqui e ali, ao longo destes registros, o leitor chegará a passagens que são obviamente respostas para meus pensamentos não expressos, usualmente começando com “Sim” ou “Não”. Ficando isso entendido, não haverá necessidade para que eu as indique, a menos que alguma ilustração em particular requeira.

Sim, podemos vê-los quando desejam que assim aconteça, mas depende do estado de nossa evolução e do próprio poder deles de servir a nós.

Poderia agora, por favor, descrever a sua casa – paisagens, etc.?

A terra aperfeiçoada. Mas é claro que realmente existe aqui o que chamam de quarta dimensão, de certa forma, e que nos impede descrevê-la adequadamente. Temos colinas, rios e lindas florestas, e casas também, e todo o trabalho daqueles que vieram para cá antes de nós, para deixarem tudo pronto. Estamos agora a trabalho, na nossa vez, construindo e arrumando para aqueles que ainda devem continuar sua batalha na terra, e quando vierem para cá encontrarão todas as coisas prontas e a festa preparada.

Contaremos a você uma cena que presenciamos não faz muito tempo. Sim, uma cena em nosso plano. Avisaram-nos que uma cerimônia iria acontecer numa certa planície não muito longe de casa, à qual deveríamos estar presentes. Era a cerimônia de iniciação de alguém que havia atravessado o portal do que chamamos preconceito, isto é, do preconceito contra aqueles que não eram de seu próprio modo de entendimento, e que estava para seguir para uma esfera mais ampla e plena de benefícios.

Fomos para lá, conforme o convite, e encontramos multidões chegando de todas os lados. Alguns vieram em... por que hesita? Estamos descrevendo literalmente o que vimos – carruagens; chame-as de outra forma, se quiser. Elas eram puxadas por cavalos, e seus condutores pareciam saber exatamente o que dizer a eles, já que não eram guiados com arreios como são na terra, mas pareciam ir para onde os condutores desejavam. Alguns chegaram a pé e alguns através do espaço por vôo aéreo. Não, sem asas, que não são necessárias.

Quando estavam todos reunidos, formou-se um círculo; usavam roupagem de cor laranja, mas brilhante, não como aquele que se adiantou, o que estava para ser iniciado, ele usou a cor como você a conhece; nenhuma de nossas cores é conhecida, mas temos que lhe contar em nossa antiga linguagem. Aquele que havia sido seu guardião, então, levou-o pelas mãos e colocou-o num outeiro verde no meio do espaço aberto, e orou. E então uma coisa linda aconteceu.

O céu pareceu ter intensificado sua cor – principalmente azul e dourado – e de fora dele desceu uma nuvem semelhante a um véu, mas que parecia ser feito de uma fina renda, e as figuras dominantes eram pássaros e flores – não brancos, mas todos dourados e irradiantes. Isto lentamente se expandiu e desceu sobre os dois, e eles pareceram se tornar parte dele, e ele deles, e, à medida que esvaneceu lentamente, deixou ambos mais belos que anteriormente – permanentemente belos, porque ambos haviam sido elevados para uma esfera mais alta de luz.

Então começamos a cantar, e, apesar de que não podíamos ver instrumentos, mesmo assim a música instrumental misturou-se com nosso canto e uniu-se a ele. Foi muito bonito, e serviu tanto para galardão aos que mereceram, como também um estímulo para os que ainda devem marchar no caminho que estes dois já marcharam. A música, como mais tarde descobri, vinha de um templo instalado fora do círculo, mas sem dúvida não parecia vir de nenhum ponto. Esta é uma qualidade da música por aqui. Freqüentemente parece fazer parte da atmosfera.

Nem a jóia faltou. Quando a nuvem saiu, ou dissolveu, nós a vimos na testa do iniciado, dourada e vermelha, e seu guia, que já tinha uma, usava a dele em seu ombro – ombro esquerdo – e percebemos que havia aumentado de tamanho e em brilho. Não sei como isso acontece, mas faço uma idéia, não o suficientemente definida para lhe contar, entretanto, e é difícil de explicar o que nós entendemos por nós mesmos. Quando a cerimônia acabou, todos nós nos separamos, indo para os nossos trabalhos novamente. Foi mais longa do que lhe descrevi, e teve um efeito muito encorajador em todos nós
Acima da colina, no lado mais distante da planície onde estávamos, percebi uma luz intensificar-se e apareceu-nos um contorno lindo de uma forma humana. Não penso que tenha sido uma aparição de nosso Senhor, mas de algum grande Anjo Mestre que veio para nos dar forças, e para cumprir Sua vontade. Sem dúvida alguns ali puderam ver mais claramente que eu, porque conseguiam ver, e também entender, na proporção do estágio de evolução de cada um.

Não, meu menino, apenas pense por um momento. É de sua mente ou através dela, como dizem vocês? Quando você se sentou para escrever, como sabe, nada estava mais longe de seus pensamentos que isso, porque tivemos o cuidado de não o impressionar, e mesmo assim você saiu rapidamente com a hipótese de que nós o influenciamos. Não foi assim?

Sim, admito-o fracamente.

Muito bem. E agora sairemos... mas não o deixaremos, já que estamos sempre com você, de uma forma que não pode compreender – mas deixaremos esta escrita, com nossa oração e bênçãos sobre você e os seus. Boa noite e até logo, até amanhã.


Quarta, 24 de setembro de 1913.

Suponha que quiséssemos pedir-lhe para olhar um pouco adiante, e tentasse imaginar o efeito de nossas comunicações, vistas a partir de seu atual estado mental. Pense, então, qual teria sido o resultado dos acontecimentos, se vistos de nossa esfera no mundo espiritual? Seria algo parecido com o efeito da luz do sol quando é projetada na bruma marítima, que gradualmente se esvai e a cena que ela envolvia torna-se mais clara à visão, e mais bela do que era quando foi sombriamente discernida através da bruma envolvente.

Assim é que nós vemos suas mentes e, mesmo quando o sol fugazmente ofusca e confunde mais do que clareia a visão, você sabe que no final será mesmo a luz, e no fim de tudo, a Luz em Quem não há escuridão jamais. Mas a luz nem sempre conduz à paz, porém em sua passagem freqüentemente cria uma série de vibrações que trazem destruição àquelas espécies de criaturas viventes que não foram criadas para sobreviverem à luz do sol. Deixe-as irem e, por você, siga em frente, e enquanto seguir, seus olhos vão tornar acostumados à luz mais intensa, à beleza maior do Amor de Deus, à verdadeira intensidade dela que, misturada como está, com a Sabedoria infinita, confunde os que não estão pertinentes a ela.

Agora, querido filho, escute enquanto contamos a você mais uma cena que muito nos alegrou aqui, nestas regiões da luz de Deus.

Estávamos passeando, pouco tempo atrás, num local bonito, numa floresta; e enquanto andávamos conversávamos um pouquinho, nada mais que um pouquinho, por causa da sensação musical que parecia absorver tudo o mais em seu sacro silêncio. Então, num caminho diante de nós, estava aquele que pudemos interpretar como sendo um anjo das esferas mais altas. Ele ali estava olhando para nós com um sorriso na face, mas nada dizia, então ficamos esperando que ele entregasse alguma mensagem para algum de nós em especial. Era isso mesmo, já que quando paramos e ficamos ali na expectativa, ele veio em nossa direção e, levantando o manto que usava – era da cor do âmbar – colocou seu braço e rodeou meu ombro e, colocando sua face em meu cabelo – já que ele era muito mais alto que eu – disse suavemente, “Minha criança, fui enviado a você por seu Mestre, em Quem você aprendeu a crer, e a estrada à sua frente é vista por Ele, mas não por você. A você serão dadas as forças necessárias para o que tiver que fazer; e você foi escolhida para uma missão que lhe é nova, em seu serviço aqui. Você poderá, claro, visitar estes seus amigos se desejar, mas agora deve deixá-los por um tempo, e eu lhe mostrarei sua nova moradia e as novas incumbências.”

Então os outros se aproximaram em torno de mim, beijaram-me e seguraram minha mão na deles. Estavam tão contentes quanto eu – apesar de que não seja a melhor palavra para ser usada em meu caso, não contém a paz suficiente. Depois de um tempo, depois que ele nos deixou falar e imaginar o que a mensagem significaria, veio em nossa direção mais uma vez e desta vez tomou-me pela mão e guiou-me para fora dali.

Andamos por um tempo e então senti meus pés deixarem o chão e seguimos pelo ar. Não estava com medo, pois era passado a mim um pouco de seu poder. Passamos por cima de uma alta montanha onda havia muitas localidades, e finalmente, depois de uma jornada bem longa, descemos numa cidade onde jamais tinha estado antes.

A luz não era ofuscante, mas meus olhos não estavam acostumados a tal grau de brilho. Entretanto, logo percebi que estávamos num jardim que cercava um amplo edifício, com degraus em toda sua frente, até ele que estava no topo de uma espécie de terraço. O prédio parecia todo de uma só peça de um material de vários matizes – rosa, azul, vermelho e amarelo – que brilhava como ouro, mas suavemente. Subimos, e na enorme portaria, sem nenhuma porta nela, encontramos uma linda senhora, elegante, porém não orgulhosa. Ela era o Anjo da Casa da Tristeza. Você cogita sobre a palavra usada neste contexto. Significa isso:

A tristeza não é dos que habitam aqui, este é o local dos que os auxiliam. Os tristes são os que estão na terra, e o encargo dos residentes nesta Casa é mandar a eles vibrações que terão o efeito de neutralizar as vibrações dos corações entristecidos na terra. Você deve entender que aqui temos que alcançar a profundidade das coisas e aprender as causas de tudo, e é um estudo muito profundo, aprendido apenas em estágios graduais, passo a passo. Eu, portanto, falo das causas das coisas quando uso a palavra “vibrações”, como sendo a palavra que você melhor compreenderá.

Ela me recebeu muito gentilmente e levou-me para dentro, onde mostrou-me cada parte do lugar. Tudo era bem diferente de qualquer coisa da terra, por isso é bastante difícil de descrever. Mas posso dizer que toda a Casa parecia vibrar com vida e responder às nossas vontades e nossa vitalidade.

Esta é, então, minha atual e recente fase de serviço, e muito promissora para mim. Mas apenas acabei de começar a entender que as orações que são trazidas a nós aqui e registradas, e temos as visões dos que estão em problemas – ou melhor, elas também são registradas, e nós as vemos ou sentimos, como aconteceram, e enviamos nossas vibrações em retorno. Isso com o tempo torna-se involuntário, mas requer um grande esforço no início. Penso que é assim. Mas mesmo o esforço tem um abençoado reflexo sobre os que trabalham desta forma.

Há muitos lugares por aqui, como aprendi, todos em contato com a terra, o que para mim pareceria impossível, só que, como os efeitos são também registrados e retornam a nós, fico sabendo de quanto conforto e ajuda enviamos. Fico em serviço pouco tempo de cada vez, e então saio e vejo as vistas da cidade e sua vizinhança. E toda ela é muito gloriosa, mais bela ainda que minha antiga esfera, a qual também volto a visitar, para rever meus amigos. Por isso você pode imaginar as conversas que temos quando nos encontramos. Dá quase que a mesma alegria que o trabalho em si. A Paz de Jesus nosso Senhor é a atmosfera em torno de nós. E esta é a terra onde não há escuridão, e quando a treva estiver no passado, querido, você virá para cá, e vou mostrar-lhe tudo isso – ou talvez possa tomar-me pela mão, como ele fez, e levar-me para ver o trabalho em sua própria esfera. Você está pensando que sou ambiciosa por você, querido rapaz. Bem, sou mesmo, e esta é a maternal... fraqueza, eu diria, ou até mesmo uma bênção?

Até logo, meu querido. Seu próprio coração é testemunha de que tudo isso é real, pois posso vê-lo brilhando feliz, e isso também é alegria para mim, sua mãe, meu querido filho. Boa noite então, e Deus manterá você e os seus em paz.


Quinta, 25 de setembro de 1913.

O que mais queremos lhe dizer esta noite é para ser entendido como uma tentativa imperfeita de transmitir-lhe do que é o significado daquela passagem da qual você sempre se lembra, onde nosso Senhor diz a São Pedro que ele é um adversário d’Ele. Ele, como você se recordará, estava a caminho da Cidade Santa, e esteve dizendo a Seus Apóstolos que seria assassinado ali. Agora, o que Ele evidentemente queria passar a eles era o fato de que, apesar de que para os homens Sua missão parecesse terminar em falha, ainda assim aos olhos que pudessem ver, como Ele faria que os deles vissem, Seu fim era apenas o começo de uma evolução muito mais poderosa e gloriosa da missão que lhe foi confiada pelo Pai, para a elevação do mundo.

Pedro, por sua atitude, mostrou que não entendera isso. Está tudo claro e simples o suficiente, pelo menos, para ser entendido. Mas o que está freqüentemente fora da visão é o fato de que o Cristo estava seguindo uma linha reta de progresso, e Sua morte foi apenas um incidente em sua estrada progressiva, e que aquela tristeza, como o mundo a entende, não é a antítese da alegria, mas pode ser parte dela, porque, se corretamente usada, torna-se o fulcro no qual a alavanca pode se apoiar para aliviar um peso para fora do coração daqueles que entendem que tudo é parte de um planejamento de Deus para o nosso bem. É somente conhecendo o real “valor” da tristeza que compreenderemos o quão limitada é em seu efeito, enquanto nos faz infelizes. Bem, Ele estava por infligir aos apóstolos a maior das tristezas que Ele poderia e, a menos que eles entendessem isso, seriam incapazes de usarem a tristeza para elevarem-se a si mesmos acima da turbulência do mundo, e portanto, incapazes de realizarem o trabalhão que Ele tinha para eles cumprirem. “Sua dor deve ser convertida em alegria,” disse-lhes Ele, e assim aconteceu, mas apenas quando eles aprenderam o valor científico da tristeza – apesar de que numa medida limitada, entretanto razoável.

Tudo isso soa muito simples quando está escrito deste jeito, e sem dúvida é, de certa forma, porque todos os fundamentos da economia de Deus são simples. Mas para nós, e agora para mim, tem uma importância que pode não ser aparente a vocês. Pois o problema que é principalmente estudado na Casa na qual gasto a maior parte de meu tempo é este mesmo tema, isto é, transformar, ou converter, as vibrações de tristeza em vibrações que produzam alegria no coração humano. É um estudo maravilhoso, mas muitas dúvidas entram nele por causa das restrições impostas a nós pelo sagrado livre arbítrio. Nós não podemos derrogar o arbítrio de ninguém, mas temos que trabalhar através de suas vontades para produzirmos o efeito desejado e ainda deixá-los livres todo o tempo, e assim, irem merecendo, de uma forma e em certa medida, as bênçãos recebidas. Canso-me às vezes, mas passa, conforme vou me fortalecendo no trabalho. Qual é a sua pergunta? Penso que quer formular uma..

Não, obrigado. Não tenho nenhuma pergunta em particular em mente.

Não havia algo que queria perguntar sobre... algo a ver com o método pelo qual o impressionamos?

Realmente pensei em perguntar-lhe isso pela manhã. Mas havia esquecido. Suponho que não haja mais nada a ser esclarecido, não é? Eu chamaria de impressão mental.

Sim, é correto, tanto quanto alcance, mas não vai muito longe. Impressão mental é uma expressão que encobre muita coisa que não é compreendida. Nós impressionamos você através destas mesmas vibrações, algumas de natureza diversa das outras, todas direcionadas à sua vontade. Mas vejo que não está muito interessado neste tema agora. Retornaremos a ele, se quiser, em outra ocasião. Quero falar daquelas coisas que são de seu atual interesse.

Então conte-me mais sobre aquela sua Casa e sobre seu novo trabalho.

Então, muito bem, tentarei fazê-lo o melhor que puder. Ela é lindamente acabada, por dentro e por fora. Internamente temos banheiros e uma sala de música e o aparato que nos ajuda nos registros de nossos trabalhos. É um lugar bem amplo. Chamei de casa, mas realmente é uma série de casas, cada uma destinada a um certo tipo de trabalho, progressivos como numa série. Passamos de uma a outra conforme aprendemos tudo o que podemos de cada uma delas. Mas tudo é tão magnífico que as pessoas não entenderiam, nem acreditariam; portanto prefiro contar-lhe de coisas mais simples.

Os terrenos são bem amplos, e todos têm uma espécie de relação com os prédios, uma espécie de sensibilidade recíproca. Por exemplo, as árvores são árvores verdadeiras, e crescem mais que as árvores da terra, e têm um relacionamento com os prédios, e tipos diferentes de árvores respondem mais a uma casa que outros, e ajudam no efeito e no trabalho para os quais aquela casa em particular foi construída. Assim é também com grupos de árvores nos bosques, e as flores nos canteiros dos caminhos, e os arranjo dos regatos e cachoeiras que são encontrados em diversas partes do local. Tudo isso foi pensado com imensa sabedoria, e o efeito produzido é muito belo.

A mesma coisa se obtém na terra, mas as vibrações lá são tão pesadas, comparativamente, tanto dos que emitem quanto dos que recebem, que o efeito é quase invisível. Apesar disso, assim é. Por exemplo, você sabe que algumas pessoas conseguem plantar com sucesso mais flores e árvores que outras, e que as flores permanecem vivas mais tempo em algumas casas – e suas famílias - que em outras; quero dizer das flores colhidas. Tudo isso aqui é a mesma coisa, de uma forma geral. Aqui estas influências são mais potentes em suas ações, e também os receptores são mais sensíveis na percepção. E isso, veja, é uma das coisas que nos ajudam em diagnósticos acurados dos casos que são registrados aqui a fim de que sejam lidados por nós.

A atmosfera também é naturalmente afetada pela vegetação e pelas construções, já que, deixe-me repetir, estas casas não foram construídas meramente de forma mecânica, mas são o desenvolvimento – fruto, se preferir – da ação da vontade dos mais evoluídos na hierarquia destes reinos, e portanto de mais poderosa vontade criativa.

A atmosfera tem também um efeito em nossas vestimentas, e influencia as nossas próprias personalidades por seu efeito na textura e coloração. Desta forma, se fôssemos espiritualmente do mesmo grau, nossa roupagem seria da mesma cor e textura, por causa da influência atmosférica; de fato ela é modificada na mesma graduação em que nossas características diferem uns dos outros.

Também o matiz de nossas roupas muda de acordo com a parte do terreno em que estejamos. É muito interessante e instrutivo, e também muito bonito, vê-las variando de cor conforme percorremos uma estrada onde floresce vegetação diferente, ou onde o conjunto das várias espécies de plantas é diferente.

A água também é muito bonita. Vocês ouvem das ninfas das águas e sobre seres semelhantes, na vida terrena. Bem, posso dizer-lhe que, de certa forma, são reais. Todo o lugar é envolvido e interpenetrado com vida, o que significa criaturas viventes. Eu tinha alguma idéia disso na esfera de onde recentemente cheguei, mas aqui, assim que me acostumei a tudo que era estranho e novo por aqui, vejo tudo mais amplamente e começo a imaginar o que haverá em algumas esferas adiante. Pois o que se imagina deste lugar parece ser o máximo que um lugar poderia conter.

Mas, deixe estar. Ele, que é Quem nos favorece em uma parte de Seu maravilhoso reino, favorecer-nos-á em outra. Isto é um conselho a você, meu filho querido, com o qual eu o deixo agora, com minhas bênçãos.


Nota de George Vale Owen:
Enquanto escrevia a primeira parte desta mensagem, não pude perceber a linha do argumento, que me parecia fraca e confusa. Ao lê-la por completo, entretanto, não posso mais dizer isso.

Tomando o que é dito das vibrações de tristeza como sendo meramente uma sugestão sobre os “fundamentos,” e aplicando nisso alguns destes raciocínios como os da teoria que é aplicada na irradiação ondulatória de luz e calor, o resultado seria algo como:

Ao se lidar com aquela combinação de vibrações que causam tristeza, o método não é tanto o de substituição como o de reajuste. Ao direcionarmos à alma triste outras categorias de vibrações, aquelas de tristeza são, algumas delas, neutralizadas; e outras são modificadas e convertidas em outras vibrações, o efeito disso é alegria ou paz.

Vista dessa forma, a mensagem acima parece realmente ter significação, e pode talvez lançar alguma luz na forma pelos quais os problemas são realmente tratados na vida. Certamente parecem ser parte de um método divino, não que o aspecto exterior e as circunstâncias de tristeza devessem ser remediadas (exceto em casos extremamente raros), mas que outros elementos deveriam ser infundidos, os quais deveriam ter o efeito de converter a tristeza em alegria. Isto é apenas uma questão de observação diária. Para a mente não científica, parecerá que está se dando uma grande volta. A outros parecerá razoável sugerir que estas “outras vibrações” são vibrações reais de outra categoria ou “valores”

A passagem referida está em João, 16, 20: “Eu vos afirmo, e esta é verdade: chorareis e gemereis, enquanto o mundo se alegrará. Vós estareis na tristeza; mas vossa tristeza se converterá em alegria.”


Sexta, 26 de setembro de 1913.

Nossa última afirmação foi dada em resposta a um pedido de alguém de nosso grupo, para que tentássemos impressioná-lo numa forma mais profunda que antes, mas conseguimos apenas começar, como aconteceu, e não acabamos nossa explanação. Se a deseja, continuaremos no tema agora.

Sim, obrigado.

Então você deve, por uns momentos, tentar pensar conosco como se estivesse do nosso lado do Véu. As coisas, você deve entender, aqui tomam um aspecto muito diferente do que elas têm quando são vistas a partir do plano terrestre, e um aspecto, temo, que os que ainda na terra desejam, pelo menos em muitos casos, que é usar um semblante de irrealidade e romance. E as mínimas coisas aqui são forradas com tanta dúvida pelos que são recém chegados que, até que eles tenham perdido o hábito de pensar em termos tridimensionais, ficam impedidos de progredir para longe. E isso, creia-me, é assunto de muita dificuldade.

Agora, o termo “vibrações” deverá servir, mas está longe de ser adequado para as coisas materiais serem entendidas. Pois tais vibrações, como estas que mencionamos, não são meramente mecânicas quanto ao seu movimento e qualidade, mas têm nelas uma essência de vitalidade, e é dessa vitalidade que nos apropriamos e usamos. Esta é a ligação que conecta nossas vontades e a manifestação exterior em vibrações, já que é realmente isso que são todas elas. São apenas fenômenos da vida mais profunda que nos envolve e a todas as coisas. Com elas, como material básico, somos capazes de executar coisas, e construir coisas que têm uma durabilidade que o termo em si pareceria não corresponder.

Por exemplo, é por este método que a ponte sobre o abismo* entre as esferas de luz e de trevas é construída, e aquela ponte não é toda de uma cor só. No lado mais distante ela está imersa na escuridão e, conforme vai emergindo gradualmente, em direção à região de luz, assume um matiz cada vez mais brilhante, e, onde ela está assentada nas alturas em que começam os planos mais luminosos, é o matiz de cor de rosa e raios de luz que a envolvem como uma prata rara ou ainda o alabastro.

Sim, claro, há uma ponte sobre o abismo. De outra forma, como poderiam sair aqueles que venceram os caminhos acima, através da escuridão? Verdadeiramente – e eu havia esquecido isso – há alguns que vêm dos terríveis reinos da escuridão, e escalam as regiões deste lado do abismo. Mas estes são poucos, e são os obstinados que rejeitam ajuda e guia dos guardiães do caminho que ficam parados no lado mais distante, para mostrar a saída aos que se qualificaram a isso.

Também, devem saber, estes guardiães somente são visíveis a estas pobres pessoas na proporção em que a luz foi gerada em seus corações; e por isso uma certa cota de confiança é necessária se se entregarem à sua guarda. Esta confiança também acontece quando atingem uma mentalidade melhor, pela qual se tornaram, em certo grau, capazes de discernir entre luz e treva. Bem, as complicações do espírito humano são múltiplas e espantosas, portanto vamos a algo mais fácil de ser colocado em palavras. Eu acabo de chamar de ponte, mas.. eu deveria ter me referido a uma passagem, “A luz do corpo é o vosso olhar.” Leia isso ligando a tudo, e verá que faz parte do caso, não somente na terra, mas dos daqui também.

Eu chamei de ponte mas, de fato, tem pouco a ver com uma ponte na terra. Estas regiões são muitos vastas, e a ponte é mais uma variação do terreno que outra coisa a mais que eu pudesse pensar para expressar a você. E lembre-se de que eu apenas vi uma pequena parte destas esferas, e por isso conto a você da parte que conheço. Sem dúvida há outros abismos e pontes – provavelmente numerosos. Através do precipício, ou da ponte, então, aqueles que buscam a luz empreendem sua jornada, e a jornada é bem lenta, e há muitas casas de repouso onde eles podem descansar, de vez em quando, em sua viagem progressiva; mudam de um para outro grupo de anjos mantenedores, até que o último estágio entregue-os aqui deste lado. Nosso trabalho na casa, ou colônia, à qual agora pertenço, é também direcionado a estes espíritos que progrediram até aqui, tanto quanto aos da terra. Mas este é um departamento diferente do meu, atualmente. Ainda não fui tão longe em meus estudos. É mais difícil, porque as influências em torno dos que estão nas trevas aqui são muito mais danosas que as influências na terra, onde boas influências estão sempre se mesclando com as más. Somente quando as pessoas carecentes e enfraquecidas chegam até aqui é que percebem a terrível tarefa diante delas, e este é o porquê de tantos permanecerem por tanto tempo numa condição de desesperança e desespero.

Quando estão a salvo sobre a ponte, eles são recebidos por esses nas encostas onde a grama e as árvores crescem, e ficam estupefatos pelo prazer, em vez de se prepararem gradualmente. Pois ainda não estão acostumados ao amor e sua doçura, depois das experiências adversas lá embaixo.

Eu disse que esta ponte se assentava nas alturas; falava comparativamente. O local da chegada é mais alto comparando com as regiões de escuridão lá embaixo. Mas, de fato, é região baixa; o plano mais baixo sem dúvida, da região celeste.

Você está pensando na “garganta profunda”, ou precipício, “descritos” na Parábola. Está quase de acordo com o que lhe descrevi, e você já teve esta explanação em outro local. Também a razão pela qual estes que chegam fazem isso, em vez de atingirem este lado por viagem aérea, ou “vôo”, como talvez você chamaria, é porque eles não são capazes de completar a jornada desta forma por causa de sua fraca espiritualidade. Se eles tentassem isso, cairiam no vale escuro, perdendo então seu caminho.

Não fui longe nestas regiões escuras, mas fiz uma pequena parte do percurso, e a miséria que vi foi mais que suficiente por bastante tempo. Quando eu progredir no atual trabalho, e tiver por algum tempo ajudado estas pobres almas lá do ponto avantajado daquela casa, e tiver permissão, e provavelmente terei, irei mais adiante entre eles. Mas não é para agora.

Uma coisa mais eu posso dizer – já que por agora devemos parar. Quando eles surgem e chegam até a outra extremidade da ponte, devo dizer-lhe que o barulho que é ouvido, vindo por detrás deles, é horrível, e fagulhas vermelhas incandescentes são vistas. O que causa isso, não sou capaz de explicar claramente, mas nos dizem que os gritos, uivos e lamentações, e também as fagulhas, são enviadas por aqueles que ficaram para trás, que ficam enraivecidos por sua impotência de recapturar o fugitivo, ou de retê-lo em sua fuga; porque o mal é sempre impotente diante do bem, mesmo que o bem seja bem pequeno ao final das contas. Mas não devo continuar mais por agora, e o que estou dizendo agora não é o que vi pessoalmente, mas ouvi dizer, que quer dizer, foi dado a você de segunda mão, mas é verdadeiro, apesar de tudo.

Boa noite, meu querido filho, e possa o Pai de Todos cobrir com Sua luz e paz a você e aos seus. Possa você ver luz na Sua luz, e o brilho daquela luz seja de uma aurora de paz.


Sábado, 27 de setembro de 1913.

Eu pediria aos meus amigos para que tentassem impressionar-me mais vividamente...

Quase não é necessário que tenhamos o cuidado de impressioná-lo mais vividamente do que já fizemos, pois direcionamos as mensagens da forma como as desejamos para ajudá-lo a conceber alguma coisa de nossas vidas, das condições que por aqui prevalecem. Apenas acrescentaríamos algo que precisa estar bem claro a você: é que quando chegamos até aqui, não estamos em nosso elemento próprio, mas num elemento que é natural a você e bruma para nós, e é através dela temos que trabalhar o melhor que podemos.

Vocês podem me ver enquanto estou aqui sentado escrevendo?

Realmente vemos você, mas com olhos diferentes dos seus. Nossos olhos não estão acostumados ao efeito da luz que vocês têm na terra. Nossa luz é de um tipo diferente, uma espécie de elemento interpenetrante pelo qual somos capazes de discernir o mais íntimo de sua mente, e é por ela que conversamos – com você mesmo, e não, é claro, com os seus ouvidos exteriores. Por isso é você mesmo que vemos, e não seu corpo material, o qual é apenas uma vestimenta envolvente. Quando o tocamos, entretanto, você não sente o toque fisicamente, mas espiritualmente, e se deseja apreender nosso toque, terá que mantê-lo na mente e olhar mais profundamente que o corpo e o cérebro mecânico dele.

Você gostaria de saber algo mais sobre a forma que trabalhamos aqui e as condições em que usamos nossa vida. Não são todos os que vêm para cá que podem entender uma das verdades elementares que é necessário assimilar para se progredir: que Deus não é mais visível aqui do que na vida terrena. Esperam encontrá-Lo pessoalmente, e ficam muito desapontados quando lhes contam que esta é uma idéia errônea sobre a forma com que Ele age sobre nós. A vida e a beleza d’Ele são quase aparentes na terra para aqueles que conseguem olhar mais profundo que a aparência externa. Assim é aqui também, com esta modificação: a vida aqui é mais tangível, e mais fácil de ser percebida e usada por aqueles que estudam sua natureza, e em tudo em torno de nós ela palpita, e nós, estando num estado mais sensível, podemos senti-la mais que quando estivemos na vida da terra. Ainda mais, tendo dito isso de forma genérica, é verdadeiro dizer que, de vez em quando, manifestações da Presença Divina nos são dadas, quando por algum propósito em particular se faz necessário; e uma dessas, passo a contar-lhe agora.

Fomos chamados a uma parte desta região onde muitas pessoas deveriam estar reunidas, de diferentes credos, fés e localidades. Quando chegamos, vimos que um grupo de espíritos missionários havia retornado de seu período de compromissos numa região fronteiriça da esfera terrestre, onde estiveram trabalhando com almas recém chegadas que não percebiam que haviam atravessado a linha demarcatória entre a terra e o mundo espiritual. Muitos eram luminosos, mas foram trazidos ao local para que se encontrassem conosco numa ação de graças, antes de seguirem aos seus próprios planos. Eram de idade variada, já que os velhos não haviam progredido ainda para tornarem-se jovens e vigorosos novamente; os jovens não haviam atingido a idade plena. Todos estavam reunidos com muita expectativa, e, conforme os grupos destes novos companheiros nesta vida chegavam uns após outros, eles observavam maravilhados suas faces e as diferentes cores de roupagens usadas pelas várias ordens e hierarquias.

Aos poucos, ficamos todos reunidos e então ouvimos um acorde de música que pareceu nos invadir a todos, unindo toda esta multidão em uma só grande família. Então vimos uma grande cruz de luz aparecer. Parecia estar apoiada na encosta da grande montanha que delineava a planície e, enquanto a observávamos, ela começou a se desmanchar em centelhas de luz brilhante, e em pouco tempo percebemos que era uma enorme falange de anjos de uma esfera mais alta que ficou ali, formando uma cruz perto da montanha; tudo em torno deles cintilava em dourado, e podíamos sentir, mesmo à distância, suas cálidas emanações amorosas.

Gradualmente eles foram ficando mais nítidos para a nossa visão, conforme tornaram-se mais presentes neste ambiente inferior ao deles, e então vimos, parado na parte onde está o cruzamento dos dois braços da cruz, um Ser maior. Parecia que instintivamente todos sabíamos que era Ele. Era uma manifestação do Cristo naquilo que conhecem como Forma Presente.

Ele ficou ali, silencioso e estático, por algum tempo, e então levantou Sua mão direita ao alto, e vimos uma coluna de luz descer e ficar ali enquanto Ele ali a mantinha. A coluna era um caminho, e nele vimos outra falange descendo e, quando chegaram até o braço levantado, ali pararam e ficaram silentes com suas mãos cruzadas sobre o peito e cabeças inclinadas. Então a mão moveu-se até que tivesse rodeado tudo até embaixo, os dedos apontando a planície, e vimos a coluna estender-se em nossa direção a meia altura, até que ligou o espaço entre a montanha e a planície, e a extremidade dela ficou sobre a multidão agrupada ali.

Ao longo desta coluna caminhou a falange que se tornara visível por último, e pairaram sobre nós. Abriram seus braços então, e todos vagarosamente voltaram-se em direção à montanha, e suavemente ouvimos suavemente suas vozes, uma parte declamando e outra cantando um hino de devoção a Ele Que ali estava, tudo tão belo e tão sagrado que primeiramente ficamos em silêncio. Mas depois nós também aprendemos suas palavras e cantamos, ou declamamos com eles; já que, evidentemente, era esse o propósito deles ao virem até nós. Enquanto cantávamos, elevou-se entre nós e a montanha uma neblina de matiz azulado que tinha um efeito muito curioso. Parecia agir como uma lente telescópica, trazendo a visão d’Ele para mais perto, até que pudemos ver a expressão de Sua face. Aquilo agia assim também nas formas daqueles que ficaram bem abaixo d’Ele. Mas nós não tínhamos olhos para eles, somente para a Sua face e forma, tão graciosas. Não posso descrever a expressão. Era um misto de coisas que as palavras não traduzem, a não ser em pequena parte. Havia mesclados o amor, a piedade, a alegria e a majestade, e eu senti que a vida era uma coisa muito sagrada, quando unia a Ele e a nós em um só laço. Penso que os outros sentiram a mesma coisa também, mas não nos falávamos, estando toda a nossa atenção voltada para a visão d’Ele.

Então, lentamente a neblina esvaneceu na atmosfera, e vimos a cruz na montanha e Ele como antes, apenas visto com mais dificuldade; e os anjos que haviam se aproximado de nós foram em embora, pairando agora sobre Ele. Então, gradualmente tudo sumiu. Mas o efeito foi um sentimento muito definido de Sua Presença muito atuante e perpétua. Talvez tenha sido esse o objetivo desta visão ser oferecida aos recém chegados que, apesar de não poderem ver tão claramente como nós que estávamos aqui há mais tempo, mesmo assim puderam ver o suficiente para que os encorajasse e lhes desse paz.

Ficamos por ali por mais algum tempo, e então, silenciosamente, seguimos nosso caminho, não conversando muito porque estávamos impressionados com o que havíamos testemunhado. E também, depois de todas estas Manifestações sempre havia muito em que pensar. É tão glorioso que ninguém pode captar todo seu significado enquanto ela esteja acontecendo. Deve-se pensar sobre ela gradualmente; e conversamos entre nós sobre tudo, cada um dando suas impressões, e agrupando todas, descobrimos que uma revelação havia sido feita, sobre algo que não entendíamos muito bem. Naquele momento o que mais parecia haver nos impressionado foi o poder que Ele tinha de falar a nós silenciosamente. Não pronunciara uma só palavra, mas nos pareceu estarmos ouvindo Sua voz conversando conosco a cada movimento que fizesse, e entendemos muito bem o que a voz dizia, apesar de que realmente nada falara.

Isso é tudo o que lhe posso contar por agora, portanto, adeus, querido filho, e possa você ver, como realmente verá, um dia, o que nosso Senhor, tem guardado para aqueles que O amam.


Segunda, 29 de setembro de 1913.

A idéia de ver as coisas do ponto de vista de uma esfera mais elevada que a sua, é para que se dê o verdadeiro valor quando se lê o que acabamos de escrever. De outra forma, você estará sempre enganado pela aparência de incongruência na associação das idéias que temos lhe passado. A nós é perfeitamente normal unir a chegada de nosso Senhor com o outro evento da formação daquela ponte que é a expansão da grande região do precipício. O que lá é visto concretamente – isto é, claro, concretamente para nós aqui - é apenas um fenômeno do mesmo poder invisível pelo qual o Senhor e suas legiões angélicas cobriram a abóbada celeste entre a esfera na qual agora nos movemos e aquelas de onde vieram eles.

Você compreenderá que aquela Manifestação foi, para nós, muito mais que uma materialização é, para vocês. Foi a ligação entre dois estados do Reino do Pai pela união no espaço através das vibrações mais elevadas do que as que podemos usar nestas esferas mais baixas. Como tudo acontece, nós apenas podemos imaginar, mas, ao passarmos de sua esfera terrestre para esta, a conexão entre esta e a próxima não parece estranha.

Desejamos que você pudesse ser melhor esclarecido ao observar algumas das maravilhas de nosso plano, pois então tudo lhe pareceria mais natural, tanto em sua jornada na terra, quanto também quando vier para cá e nada soar estranho em sua mente. A primeira coisa que veria é que a terra é o embrião do céu, e que o céu é apenas a terra purgada e aperfeiçoada; e em seguida veria que as razões são bem óbvias.

Para ajudá-lo neste assunto, portanto, tentaremos contar-lhe de um sistema que temos aqui para separar e discernir entre as coisas que importam e as de menor importância. Quando estamos com alguma dúvida – e falo apenas de nosso círculo imediato – vamos ao topo de algum edifício, ou montanha, ou algum lugar elevado de onde possamos avistar as terras distantes que nos cercam. Então, expomos nossas dificuldades, e quando acabamos de completar o raciocínio, ficamos em silêncio por um tempo, esforçando-nos por retratar tudo dentro de nós, da forma como as coisas são. Depois de algum tempo começamos a ver e ouvir algum lugar mais alto que o nosso, e vemos que as coisas importantes são as que nos mostram, pela visão e audição, que ainda persistem naquele plano mais elevado, naquelas esferas mais altas. Mas não ouvimos ou vemos as coisas que não importam tanto, e é desta forma conseguimos separar uma categoria de outra.

Parece tudo certo, querida, mas poderia dar-me um caso mais específico, a fim de exemplificar?

Penso que sim. Tivemos que lidar com uma dúvida, e não sabíamos como agir da melhor forma. Foi sobre uma mulher que estava aqui por um bom tempo e não parecia capaz de progredir muito. Não era má pessoa, mas parecia ser insegura a respeito de si mesma e de todos os que a cercavam. Sua principal dúvida era sobre os anjos – se eles eram todos de luz e bondade, ou se alguns eram de um estado angelical e outros da escuridão. Por algum tempo não conseguimos ver o porquê disto estar perturbando-a tanto, já que tudo por aqui parecia ser amoroso e brilhante. Mas descobrimos que ela tinha alguns parentes que haviam vindo para cá antes dela, e a quem ela não vira e não conseguia encontrar seu paradeiro. Quando descobrimos o principal problema dela, discutimos entre nós e fomos ao topo da colina, colocando nosso desejo de ajudá-la e pedindo que nos fosse mostrada a melhor maneira. Uma coisa memorável aconteceu, tão inesperada quanto útil.

Quando ficamos ajoelhados ali, todo o topo da colina pareceu tornar-se transparente e, enquanto estávamos ajoelhados, com as cabeças inclinadas, enxergamos diretamente através dela, e uma parte das regiões abaixo foi trazida a nós muito nitidamente. A cena que vimos –e todos nós a vimos, portanto não poderia ser ilusão – era numa planície obscura, árida e nua, e, encostado numa rocha, estava um homem de alta estatura. Diante dele, ajoelhada no chão, com as faces cobertas pelas mãos, havia uma outra pessoa. Era um homem, e parecia estar implorando algo ao outro, que continuava ali, com aparência de estar em dúvida. Então, finalmente, num impulso súbito, ele se abaixou e levantou em suas costas aquele que estava ajoelhado e o conduziu pela planície, em direção ao horizonte onde refulgia a luz pálida do crepúsculo.

Ele andou uma longa jornada com aquela carga e então, quando chegaram a um lugar onde a luz era mais forte, ele o largou e apontou um caminho a ele; então vimos que este agradeceu muito e muito, então voltou-se e correu rumo à luz. Nós o seguimos com nossos olhos, e então vimos que lhe havia sido apontado o caminho da ponte, da qual já lhe falei, - na extremidade que está no outro lado do precipício. Ainda não entendíamos por que esta visão estava sendo mostrada a nós, e continuamos seguindo o homem até que ele alcançou o enorme prédio que está no começo da ponte – não para guardá-la, mas para auxiliar os que chegam até ali, necessitando de descanso e ajuda.

Vimos que o homem havia sido observado pelo guardião, pois um facho de luz sinalizou-o aos que estavam embaixo, mostrando-o ao guardião seguinte, ao longo da ponte.

E então a colina reassumiu seu aspecto normal de novo, e nada mais foi visto por nós.

Estávamos perplexos, mais que antes, e estávamos descendo a colina quando nossa Senhora Diretora veio ao nosso encontro, e em sua companhia estava alguém que parecia um alto servidor de alguma parte de nossa esfera, mas que não havíamos conhecido ainda. Ela disse que ele veio para nos explicar a instrução que acabáramos de receber. Aquele homem menor era o marido da mulher a quem estávamos tentando ajudar, e deveríamos dizer a ela que fosse até a ponte pois lhe seria dado alojamento ali, onde então poderia esperar até que seu querido chegasse. O homem mais alto que vimos era o que a mulher chamou de anjo das trevas, já que ele era um dos mais poderosos espíritos nos planos trevosos. Mas, conforme observamos, ele era capaz de uma boa ação. Por que, então, perguntamos, ele ainda estava nas regiões de trevas?

O servidor sorriu e respondeu, “Meus queridos amigos, o Reino de Deus Nosso Pai é um lugar muito mais maravilhoso do que podem imaginar. Vocês jamais se defrontaram ainda com um reino ou esfera que fosse completo por si mesmo, independente e separado dos demais. Nem há nenhum assim. Aquele anjo trevoso mescla, em si, muitas esferas de conhecimento, bondade e maldade. Ele permanece onde está, primeiro por causa da maldade remanescente nele, que o incapacita para as regiões de luz. Ele permanece ali também porque ele poderia progredir se quisesse, mas mesmo assim ele não o deseja por enquanto, em parte por causa de sua obstinação, e parte porque ele ainda odeia a luz, e acha que os que partem para a horrível montanha são loucos, pois a dor e as agonias são mais intensas ali, em razão do contraste com o que vêem entre a luz e a escuridão. Então ele fica, e há multidões como ele, a quem uma espécie de desespero embrutecedor e estonteante impede de seguirem adiante. Também em suas horas de raiva e loucura, ele é cruel. Ele torturou e maltratou algumas vezes este mesmo homem a quem vocês viram com ele, e o fez com a crueldade de um fanfarrão covarde. Mas, como viram, isto foi superado e quando o homem implorou nesta última vez, alguma corda sensível no coração do outro vibrou um pouquinho só, e, num impulso, temendo uma reversão em suas intenções, liberou sua vítima que desejou empreender a jornada, e apontou-lhe o caminho, sem dúvida pensando em seu coração no quanto ele era estúpido e contudo, talvez, um estúpido mais inteligente que ele, afinal de contas.”

Isso era novidade para nós. Não percebêramos antes que havia bondade naquelas regiões de trevas; mas agora vimos que era natural que assim fosse, ou, se todos ali fossem totalmente ruins, nenhum deles jamais desejaria estar conosco deste lado.”

Mas o que tem a ver tudo isso com o discernimento entre as coisas que importam e as que têm menor importância?

Tudo que é do bem é de Deus, e a luz e a treva, quando aplicadas aos Seus filhos, não são, e não podem ser, absolutas. Elas devem ser entendidas como relativas. Há, como sabemos, muitos “anjos das trevas” que estão na escuridão por causa de algum desvio em seu comportamento, algum traço de obstinação que os previne contra o que é bom dentro deles, fazendo esse efeito. E estes, um dia, podem nos ultrapassar na estrada das eras, e, no Reino dos Céus, tornarem-se maiores que nós, que hoje somos mais abençoados que eles.

Boa noite, meu querido filho. Pense sobre o que escrevemos. Tem sido uma lição proveitosa a nós, e seria bom que muitos em sua vida atual pudessem aprendê-la.

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