CAPÍTULO I
OS BAIXOS PLANOS DO CÉU
Terça,
23 de setembro de 1913.
Quem
está aí?*
Mamãe
e outros amigos que vieram ajudar. Estamos progredindo muito bem, mas
não podemos transmitir-lhe todas as palavras que gostaríamos ainda,
pois sua mente não está relaxada e passiva como gostaríamos.
*As
perguntas e comentários do Sr. Vale Owen estão em itálico
Diga-me
alguma coisa sobre seu lar e sua ocupação.
Nossa ocupação varia de
acordo com a necessidade daqueles a quem auxiliamos. É variado, mas
dirigido para a elevação dos que ainda estão na vida terrena. Por
exemplo, fomos nós que sugerimos a Rose a criação de um grupo de
pessoas para virem auxiliá-la no caso de ela sentir qualquer perigo
quando estivesse no quarto escrevendo enquanto movíamos sua mão, e
este grupo está agora encarregado do caso dela. Ela não sente, às
vezes, a presença deles próximos a ela? Ela deveria, porque eles
estão sempre alerta ao seu chamado.
Sobre nosso lar. É muito
brilhante e lindo, e nossos companheiros das esferas mais altas têm
sempre vindo a nós para nos animarem a seguirmos em nosso caminho
para frente.
Ocorreu um pensamento em minha mente. Eles podem
ver estes seres dos planos mais altos, ou acontece a eles o mesmo que
conosco? Posso dizer que aqui e ali, ao longo destes registros, o
leitor chegará a passagens que são obviamente respostas para meus
pensamentos não expressos, usualmente começando com “Sim” ou
“Não”. Ficando isso entendido, não haverá necessidade para que
eu as indique, a menos que alguma ilustração em particular
requeira.
Sim, podemos vê-los
quando desejam que assim aconteça, mas depende do estado de nossa
evolução e do próprio poder deles de servir a nós.
Poderia
agora, por favor, descrever a sua casa – paisagens, etc.?
A terra aperfeiçoada.
Mas é claro que realmente existe aqui o que chamam de quarta
dimensão, de certa forma, e que nos impede descrevê-la
adequadamente. Temos colinas, rios e lindas florestas, e casas
também, e todo o trabalho daqueles que vieram para cá antes de nós,
para deixarem tudo pronto. Estamos agora a trabalho, na nossa vez,
construindo e arrumando para aqueles que ainda devem continuar sua
batalha na terra, e quando vierem para cá encontrarão todas as
coisas prontas e a festa preparada.
Contaremos a você uma
cena que presenciamos não faz muito tempo. Sim, uma cena em nosso
plano. Avisaram-nos que uma cerimônia iria acontecer numa certa
planície não muito longe de casa, à qual deveríamos estar
presentes. Era a cerimônia de iniciação de alguém que havia
atravessado o portal do que chamamos preconceito, isto é, do
preconceito contra aqueles que não eram de seu próprio modo de
entendimento, e que estava para seguir para uma esfera mais ampla e
plena de benefícios.
Fomos para lá, conforme
o convite, e encontramos multidões chegando de todas os lados.
Alguns vieram em... por que hesita? Estamos descrevendo literalmente
o que vimos – carruagens; chame-as de outra forma, se quiser. Elas
eram puxadas por cavalos, e seus condutores pareciam saber exatamente
o que dizer a eles, já que não eram guiados com arreios como são
na terra, mas pareciam ir para onde os condutores desejavam. Alguns
chegaram a pé e alguns através do espaço por vôo aéreo. Não,
sem asas, que não são necessárias.
Quando estavam todos
reunidos, formou-se um círculo; usavam roupagem de cor laranja, mas
brilhante, não como aquele que se adiantou, o que estava para ser
iniciado, ele usou a cor como você a conhece; nenhuma de nossas
cores é conhecida, mas temos que lhe contar em nossa antiga
linguagem. Aquele que havia sido seu guardião, então, levou-o pelas
mãos e colocou-o num outeiro verde no meio do espaço aberto, e
orou. E então uma coisa linda aconteceu.
O céu pareceu ter
intensificado sua cor – principalmente azul e dourado – e de fora
dele desceu uma nuvem semelhante a um véu, mas que parecia ser feito
de uma fina renda, e as figuras dominantes eram pássaros e flores –
não brancos, mas todos dourados e irradiantes. Isto lentamente se
expandiu e desceu sobre os dois, e eles pareceram se tornar parte
dele, e ele deles, e, à medida que esvaneceu lentamente, deixou
ambos mais belos que anteriormente – permanentemente belos, porque
ambos haviam sido elevados para uma esfera mais alta de luz.
Então começamos a
cantar, e, apesar de que não podíamos ver instrumentos, mesmo assim
a música instrumental misturou-se com nosso canto e uniu-se a ele.
Foi muito bonito, e serviu tanto para galardão aos que mereceram,
como também um estímulo para os que ainda devem marchar no caminho
que estes dois já marcharam. A música, como mais tarde descobri,
vinha de um templo instalado fora do círculo, mas sem dúvida não
parecia vir de nenhum ponto. Esta é uma qualidade da música por
aqui. Freqüentemente parece fazer parte da atmosfera.
Nem a jóia faltou.
Quando a nuvem saiu, ou dissolveu, nós a vimos na testa do iniciado,
dourada e vermelha, e seu guia, que já tinha uma, usava a dele em
seu ombro – ombro esquerdo – e percebemos que havia aumentado de
tamanho e em brilho. Não sei como isso acontece, mas faço uma
idéia, não o suficientemente definida para lhe contar, entretanto,
e é difícil de explicar o que nós entendemos por nós mesmos.
Quando a cerimônia acabou, todos nós nos separamos, indo para os
nossos trabalhos novamente. Foi mais longa do que lhe descrevi, e
teve um efeito muito encorajador em todos nós
Acima da colina, no lado
mais distante da planície onde estávamos, percebi uma luz
intensificar-se e apareceu-nos um contorno lindo de uma forma humana.
Não penso que tenha sido uma aparição de nosso Senhor, mas de
algum grande Anjo Mestre que veio para nos dar forças, e para
cumprir Sua vontade. Sem dúvida alguns ali puderam ver mais
claramente que eu, porque conseguiam ver, e também entender, na
proporção do estágio de evolução de cada um.
Não, meu menino, apenas
pense por um momento. É de sua mente ou através dela, como dizem
vocês? Quando você se sentou para escrever, como sabe, nada estava
mais longe de seus pensamentos que isso, porque tivemos o cuidado de
não o impressionar, e mesmo assim você saiu rapidamente com a
hipótese de que nós o influenciamos. Não foi assim?
Sim,
admito-o fracamente.
Muito bem. E agora
sairemos... mas não o deixaremos, já que estamos sempre com você,
de uma forma que não pode compreender – mas deixaremos esta
escrita, com nossa oração e bênçãos sobre você e os seus. Boa
noite e até logo, até amanhã.
Quarta,
24 de setembro de 1913.
Suponha que quiséssemos
pedir-lhe para olhar um pouco adiante, e tentasse imaginar o efeito
de nossas comunicações, vistas a partir de seu atual estado mental.
Pense, então, qual teria sido o resultado dos acontecimentos, se
vistos de nossa esfera no mundo espiritual? Seria algo parecido com o
efeito da luz do sol quando é projetada na bruma marítima, que
gradualmente se esvai e a cena que ela envolvia torna-se mais clara à
visão, e mais bela do que era quando foi sombriamente discernida
através da bruma envolvente.
Assim é que nós vemos
suas mentes e, mesmo quando o sol fugazmente ofusca e confunde mais
do que clareia a visão, você sabe que no final será mesmo a luz, e
no fim de tudo, a Luz em Quem não há escuridão jamais. Mas a luz
nem sempre conduz à paz, porém em sua passagem freqüentemente cria
uma série de vibrações que trazem destruição àquelas espécies
de criaturas viventes que não foram criadas para sobreviverem à luz
do sol. Deixe-as irem e, por você, siga em frente, e enquanto
seguir, seus olhos vão tornar acostumados à luz mais intensa, à
beleza maior do Amor de Deus, à verdadeira intensidade dela que,
misturada como está, com a Sabedoria infinita, confunde os que não
estão pertinentes a ela.
Agora, querido filho,
escute enquanto contamos a você mais uma cena que muito nos alegrou
aqui, nestas regiões da luz de Deus.
Estávamos passeando,
pouco tempo atrás, num local bonito, numa floresta; e enquanto
andávamos conversávamos um pouquinho, nada mais que um pouquinho,
por causa da sensação musical que parecia absorver tudo o mais em
seu sacro silêncio. Então, num caminho diante de nós, estava
aquele que pudemos interpretar como sendo um anjo das esferas mais
altas. Ele ali estava olhando para nós com um sorriso na face, mas
nada dizia, então ficamos esperando que ele entregasse alguma
mensagem para algum de nós em especial. Era isso mesmo, já que
quando paramos e ficamos ali na expectativa, ele veio em nossa
direção e, levantando o manto que usava – era da cor do âmbar –
colocou seu braço e rodeou meu ombro e, colocando sua face em meu
cabelo – já que ele era muito mais alto que eu – disse
suavemente, “Minha criança, fui enviado a você por seu Mestre, em
Quem você aprendeu a crer, e a estrada à sua frente é vista por
Ele, mas não por você. A você serão dadas as forças necessárias
para o que tiver que fazer; e você foi escolhida para uma missão
que lhe é nova, em seu serviço aqui. Você poderá, claro, visitar
estes seus amigos se desejar, mas agora deve deixá-los por um tempo,
e eu lhe mostrarei sua nova moradia e as novas incumbências.”
Então os outros se
aproximaram em torno de mim, beijaram-me e seguraram minha mão na
deles. Estavam tão contentes quanto eu – apesar de que não seja a
melhor palavra para ser usada em meu caso, não contém a paz
suficiente. Depois de um tempo, depois que ele nos deixou falar e
imaginar o que a mensagem significaria, veio em nossa direção mais
uma vez e desta vez tomou-me pela mão e guiou-me para fora dali.
Andamos por um tempo e
então senti meus pés deixarem o chão e seguimos pelo ar. Não
estava com medo, pois era passado a mim um pouco de seu poder.
Passamos por cima de uma alta montanha onda havia muitas localidades,
e finalmente, depois de uma jornada bem longa, descemos numa cidade
onde jamais tinha estado antes.
A luz não era ofuscante,
mas meus olhos não estavam acostumados a tal grau de brilho.
Entretanto, logo percebi que estávamos num jardim que cercava um
amplo edifício, com degraus em toda sua frente, até ele que estava
no topo de uma espécie de terraço. O prédio parecia todo de uma só
peça de um material de vários matizes – rosa, azul, vermelho e
amarelo – que brilhava como ouro, mas suavemente. Subimos, e na
enorme portaria, sem nenhuma porta nela, encontramos uma linda
senhora, elegante, porém não orgulhosa. Ela era o Anjo da Casa da
Tristeza. Você cogita sobre a palavra usada neste contexto.
Significa isso:
A tristeza não é dos
que habitam aqui, este é o local dos que os auxiliam. Os tristes são
os que estão na terra, e o encargo dos residentes nesta Casa é
mandar a eles vibrações que terão o efeito de neutralizar as
vibrações dos corações entristecidos na terra. Você deve
entender que aqui temos que alcançar a profundidade das coisas e
aprender as causas de tudo, e é um estudo muito profundo, aprendido
apenas em estágios graduais, passo a passo. Eu, portanto, falo das
causas das coisas quando uso a palavra “vibrações”, como sendo
a palavra que você melhor compreenderá.
Ela me recebeu muito
gentilmente e levou-me para dentro, onde mostrou-me cada parte do
lugar. Tudo era bem diferente de qualquer coisa da terra, por isso é
bastante difícil de descrever. Mas posso dizer que toda a Casa
parecia vibrar com vida e responder às nossas vontades e nossa
vitalidade.
Esta é, então, minha
atual e recente fase de serviço, e muito promissora para mim. Mas
apenas acabei de começar a entender que as orações que são
trazidas a nós aqui e registradas, e temos as visões dos que estão
em problemas – ou melhor, elas também são registradas, e nós as
vemos ou sentimos, como aconteceram, e enviamos nossas vibrações em
retorno. Isso com o tempo torna-se involuntário, mas requer um
grande esforço no início. Penso que é assim. Mas mesmo o esforço
tem um abençoado reflexo sobre os que trabalham desta forma.
Há muitos lugares por
aqui, como aprendi, todos em contato com a terra, o que para mim
pareceria impossível, só que, como os efeitos são também
registrados e retornam a nós, fico sabendo de quanto conforto e
ajuda enviamos. Fico em serviço pouco tempo de cada vez, e então
saio e vejo as vistas da cidade e sua vizinhança. E toda ela é
muito gloriosa, mais bela ainda que minha antiga esfera, a qual
também volto a visitar, para rever meus amigos. Por isso você pode
imaginar as conversas que temos quando nos encontramos. Dá quase que
a mesma alegria que o trabalho em si. A Paz de Jesus nosso Senhor é
a atmosfera em torno de nós. E esta é a terra onde não há
escuridão, e quando a treva estiver no passado, querido, você virá
para cá, e vou mostrar-lhe tudo isso – ou talvez possa tomar-me
pela mão, como ele fez, e levar-me para ver o trabalho em sua
própria esfera. Você está pensando que sou ambiciosa por você,
querido rapaz. Bem, sou mesmo, e esta é a maternal... fraqueza, eu
diria, ou até mesmo uma bênção?
Até logo, meu querido.
Seu próprio coração é testemunha de que tudo isso é real, pois
posso vê-lo brilhando feliz, e isso também é alegria para mim, sua
mãe, meu querido filho. Boa noite então, e Deus manterá você e os
seus em paz.
Quinta,
25 de setembro de 1913.
O que mais queremos lhe
dizer esta noite é para ser entendido como uma tentativa imperfeita
de transmitir-lhe do que é o significado daquela passagem da qual
você sempre se lembra, onde nosso Senhor diz a São Pedro que ele é
um adversário d’Ele. Ele, como você se recordará, estava a
caminho da Cidade Santa, e esteve dizendo a Seus Apóstolos que seria
assassinado ali. Agora, o que Ele evidentemente queria passar a eles
era o fato de que, apesar de que para os homens Sua missão parecesse
terminar em falha, ainda assim aos olhos que pudessem ver, como Ele
faria que os deles vissem, Seu fim era apenas o começo de uma
evolução muito mais poderosa e gloriosa da missão que lhe foi
confiada pelo Pai, para a elevação do mundo.
Pedro, por sua atitude,
mostrou que não entendera isso. Está tudo claro e simples o
suficiente, pelo menos, para ser entendido. Mas o que está
freqüentemente fora da visão é o fato de que o Cristo estava
seguindo uma linha reta de progresso, e Sua morte foi apenas um
incidente em sua estrada progressiva, e que aquela tristeza, como o
mundo a entende, não é a antítese da alegria, mas pode ser parte
dela, porque, se corretamente usada, torna-se o fulcro no qual a
alavanca pode se apoiar para aliviar um peso para fora do coração
daqueles que entendem que tudo é parte de um planejamento de Deus
para o nosso bem. É somente conhecendo o real “valor” da
tristeza que compreenderemos o quão limitada é em seu efeito,
enquanto nos faz infelizes. Bem, Ele estava por infligir aos
apóstolos a maior das tristezas que Ele poderia e, a menos que eles
entendessem isso, seriam incapazes de usarem a tristeza para
elevarem-se a si mesmos acima da turbulência do mundo, e portanto,
incapazes de realizarem o trabalhão que Ele tinha para eles
cumprirem. “Sua dor deve ser convertida em alegria,” disse-lhes
Ele, e assim aconteceu, mas apenas quando eles aprenderam o valor
científico da tristeza – apesar de que numa medida limitada,
entretanto razoável.
Tudo isso soa muito
simples quando está escrito deste jeito, e sem dúvida é, de certa
forma, porque todos os fundamentos da economia de Deus são simples.
Mas para nós, e agora para mim, tem uma importância que pode não
ser aparente a vocês. Pois o problema que é principalmente estudado
na Casa na qual gasto a maior parte de meu tempo é este mesmo tema,
isto é, transformar, ou converter, as vibrações de tristeza em
vibrações que produzam alegria no coração humano. É um estudo
maravilhoso, mas muitas dúvidas entram nele por causa das restrições
impostas a nós pelo sagrado livre arbítrio. Nós não podemos
derrogar o arbítrio de ninguém, mas temos que trabalhar através de
suas vontades para produzirmos o efeito desejado e ainda deixá-los
livres todo o tempo, e assim, irem merecendo, de uma forma e em certa
medida, as bênçãos recebidas. Canso-me às vezes, mas passa,
conforme vou me fortalecendo no trabalho. Qual é a sua pergunta?
Penso que quer formular uma..
Não,
obrigado. Não tenho nenhuma pergunta em particular em mente.
Não havia algo que
queria perguntar sobre... algo a ver com o método pelo qual o
impressionamos?
Realmente pensei em perguntar-lhe isso
pela manhã. Mas havia esquecido. Suponho que não haja mais nada a
ser esclarecido, não é? Eu chamaria de impressão mental.
Sim, é correto, tanto
quanto alcance, mas não vai muito longe. Impressão mental é uma
expressão que encobre muita coisa que não é compreendida. Nós
impressionamos você através destas mesmas vibrações, algumas de
natureza diversa das outras, todas direcionadas à sua vontade. Mas
vejo que não está muito interessado neste tema agora. Retornaremos
a ele, se quiser, em outra ocasião. Quero falar daquelas coisas que
são de seu atual interesse.
Então conte-me mais
sobre aquela sua Casa e sobre seu novo trabalho.
Então, muito bem,
tentarei fazê-lo o melhor que puder. Ela é lindamente acabada, por
dentro e por fora. Internamente temos banheiros e uma sala de música
e o aparato que nos ajuda nos registros de nossos trabalhos. É um
lugar bem amplo. Chamei de casa, mas realmente é uma série de
casas, cada uma destinada a um certo tipo de trabalho, progressivos
como numa série. Passamos de uma a outra conforme aprendemos tudo o
que podemos de cada uma delas. Mas tudo é tão magnífico que as
pessoas não entenderiam, nem acreditariam; portanto prefiro
contar-lhe de coisas mais simples.
Os terrenos são bem
amplos, e todos têm uma espécie de relação com os prédios, uma
espécie de sensibilidade recíproca. Por exemplo, as árvores são
árvores verdadeiras, e crescem mais que as árvores da terra, e têm
um relacionamento com os prédios, e tipos diferentes de árvores
respondem mais a uma casa que outros, e ajudam no efeito e no
trabalho para os quais aquela casa em particular foi construída.
Assim é também com grupos de árvores nos bosques, e as flores nos
canteiros dos caminhos, e os arranjo dos regatos e cachoeiras que são
encontrados em diversas partes do local. Tudo isso foi pensado com
imensa sabedoria, e o efeito produzido é muito belo.
A mesma coisa se obtém
na terra, mas as vibrações lá são tão pesadas, comparativamente,
tanto dos que emitem quanto dos que recebem, que o efeito é quase
invisível. Apesar disso, assim é. Por exemplo, você sabe que
algumas pessoas conseguem plantar com sucesso mais flores e árvores
que outras, e que as flores permanecem vivas mais tempo em algumas
casas – e suas famílias - que em outras; quero dizer das flores
colhidas. Tudo isso aqui é a mesma coisa, de uma forma geral. Aqui
estas influências são mais potentes em suas ações, e também os
receptores são mais sensíveis na percepção. E isso, veja, é uma
das coisas que nos ajudam em diagnósticos acurados dos casos que são
registrados aqui a fim de que sejam lidados por nós.
A atmosfera também é
naturalmente afetada pela vegetação e pelas construções, já que,
deixe-me repetir, estas casas não foram construídas meramente de
forma mecânica, mas são o desenvolvimento – fruto, se preferir –
da ação da vontade dos mais evoluídos na hierarquia destes reinos,
e portanto de mais poderosa vontade criativa.
A atmosfera tem também
um efeito em nossas vestimentas, e influencia as nossas próprias
personalidades por seu efeito na textura e coloração. Desta forma,
se fôssemos espiritualmente do mesmo grau, nossa roupagem seria da
mesma cor e textura, por causa da influência atmosférica; de fato
ela é modificada na mesma graduação em que nossas características
diferem uns dos outros.
Também o matiz de nossas
roupas muda de acordo com a parte do terreno em que estejamos. É
muito interessante e instrutivo, e também muito bonito, vê-las
variando de cor conforme percorremos uma estrada onde floresce
vegetação diferente, ou onde o conjunto das várias espécies de
plantas é diferente.
A água também é muito
bonita. Vocês ouvem das ninfas das águas e sobre seres semelhantes,
na vida terrena. Bem, posso dizer-lhe que, de certa forma, são
reais. Todo o lugar é envolvido e interpenetrado com vida, o que
significa criaturas viventes. Eu tinha alguma idéia disso na esfera
de onde recentemente cheguei, mas aqui, assim que me acostumei a tudo
que era estranho e novo por aqui, vejo tudo mais amplamente e começo
a imaginar o que haverá em algumas esferas adiante. Pois o que se
imagina deste lugar parece ser o máximo que um lugar poderia conter.
Mas, deixe estar. Ele,
que é Quem nos favorece em uma parte de Seu maravilhoso reino,
favorecer-nos-á em outra. Isto é um conselho a você, meu filho
querido, com o qual eu o deixo agora, com minhas bênçãos.
Nota
de George Vale Owen:
Enquanto
escrevia a primeira parte desta mensagem, não pude perceber a linha
do argumento, que me parecia fraca e confusa. Ao lê-la por completo,
entretanto, não posso mais dizer isso.
Tomando
o que é dito das vibrações de tristeza como sendo meramente uma
sugestão sobre os “fundamentos,” e aplicando nisso alguns destes
raciocínios como os da teoria que é aplicada na irradiação
ondulatória de luz e calor, o resultado seria algo como:
Ao
se lidar com aquela combinação de vibrações que causam tristeza,
o método não é tanto o de substituição como o de reajuste. Ao
direcionarmos à alma triste
outras categorias de
vibrações, aquelas de tristeza são, algumas delas, neutralizadas;
e outras são modificadas e convertidas em outras vibrações, o
efeito disso é alegria ou paz.
Vista dessa
forma, a mensagem acima parece realmente ter significação, e pode
talvez lançar alguma luz na forma pelos quais os problemas são
realmente tratados na vida. Certamente parecem ser parte de um método
divino, não que o aspecto exterior e as circunstâncias de tristeza
devessem ser remediadas (exceto em casos extremamente raros), mas que
outros elementos deveriam ser infundidos, os quais deveriam ter o
efeito de converter a tristeza em alegria. Isto é apenas uma questão
de observação diária. Para a mente não científica, parecerá que
está se dando uma grande volta. A outros parecerá razoável sugerir
que estas “outras vibrações” são vibrações reais de outra
categoria ou “valores”
A
passagem referida está em João, 16, 20:
“Eu vos afirmo, e esta é verdade: chorareis e gemereis, enquanto
o mundo se alegrará. Vós estareis na tristeza; mas vossa tristeza
se converterá em alegria.”
Sexta,
26 de setembro de 1913.
Nossa última afirmação
foi dada em resposta a um pedido de alguém de nosso grupo, para que
tentássemos impressioná-lo numa forma mais profunda que antes, mas
conseguimos apenas começar, como aconteceu, e não acabamos nossa
explanação. Se a deseja, continuaremos no tema agora.
Sim, obrigado.
Então você deve, por
uns momentos, tentar pensar conosco como se estivesse do nosso lado
do Véu. As coisas, você deve entender, aqui tomam um aspecto muito
diferente do que elas têm quando são vistas a partir do plano
terrestre, e um aspecto, temo, que os que ainda na terra desejam,
pelo menos em muitos casos, que é usar um semblante de irrealidade e
romance. E as mínimas coisas aqui são forradas com tanta dúvida
pelos que são recém chegados que, até que eles tenham perdido o
hábito de pensar em termos tridimensionais, ficam impedidos de
progredir para longe. E isso, creia-me, é assunto de muita
dificuldade.
Agora, o termo
“vibrações” deverá servir, mas está longe de ser adequado
para as coisas materiais serem entendidas. Pois tais vibrações,
como estas que mencionamos, não são meramente mecânicas quanto ao
seu movimento e qualidade, mas têm nelas uma essência de
vitalidade, e é dessa vitalidade que nos apropriamos e usamos. Esta
é a ligação que conecta nossas vontades e a manifestação
exterior em vibrações, já que é realmente isso que são todas
elas. São apenas fenômenos da vida mais profunda que nos envolve e
a todas as coisas. Com elas, como material básico, somos capazes de
executar coisas, e construir coisas que têm uma durabilidade que o
termo em si pareceria não corresponder.
Por exemplo, é por este
método que a ponte sobre o abismo* entre as esferas de luz e de
trevas é construída, e aquela ponte não é toda de uma cor só. No
lado mais distante ela está imersa na escuridão e, conforme vai
emergindo gradualmente, em direção à região de luz, assume um
matiz cada vez mais brilhante, e, onde ela está assentada nas
alturas em que começam os planos mais luminosos, é o matiz de cor
de rosa e raios de luz que a envolvem como uma prata rara ou ainda o
alabastro.
Sim, claro, há uma ponte
sobre o abismo. De outra forma, como poderiam sair aqueles que
venceram os caminhos acima, através da escuridão? Verdadeiramente –
e eu havia esquecido isso – há alguns que vêm dos terríveis
reinos da escuridão, e escalam as regiões deste lado do abismo. Mas
estes são poucos, e são os obstinados que rejeitam ajuda e guia dos
guardiães do caminho que ficam parados no lado mais distante, para
mostrar a saída aos que se qualificaram a isso.
Também, devem saber,
estes guardiães somente são visíveis a estas pobres pessoas na
proporção em que a luz foi gerada em seus corações; e por isso
uma certa cota de confiança é necessária se se entregarem à sua
guarda. Esta confiança também acontece quando atingem uma
mentalidade melhor, pela qual se tornaram, em certo grau, capazes de
discernir entre luz e treva. Bem, as complicações do espírito
humano são múltiplas e espantosas, portanto vamos a algo mais fácil
de ser colocado em palavras. Eu acabo de chamar de ponte, mas.. eu
deveria ter me referido a uma passagem, “A luz do corpo é o vosso
olhar.” Leia isso ligando a tudo, e verá que faz parte do caso,
não somente na terra, mas dos daqui também.
Eu chamei de ponte mas,
de fato, tem pouco a ver com uma ponte na terra. Estas regiões são
muitos vastas, e a ponte é mais uma variação do terreno que outra
coisa a mais que eu pudesse pensar para expressar a você. E
lembre-se de que eu apenas vi uma pequena parte destas esferas, e por
isso conto a você da parte que conheço. Sem dúvida há outros
abismos e pontes – provavelmente numerosos. Através do precipício,
ou da ponte, então, aqueles que buscam a luz empreendem sua jornada,
e a jornada é bem lenta, e há muitas casas de repouso onde eles
podem descansar, de vez em quando, em sua viagem progressiva; mudam
de um para outro grupo de anjos mantenedores, até que o último
estágio entregue-os aqui deste lado. Nosso trabalho na casa, ou
colônia, à qual agora pertenço, é também direcionado a estes
espíritos que progrediram até aqui, tanto quanto aos da terra. Mas
este é um departamento diferente do meu, atualmente. Ainda não fui
tão longe em meus estudos. É mais difícil, porque as influências
em torno dos que estão nas trevas aqui são muito mais danosas que
as influências na terra, onde boas influências estão sempre se
mesclando com as más. Somente quando as pessoas carecentes e
enfraquecidas chegam até aqui é que percebem a terrível tarefa
diante delas, e este é o porquê de tantos permanecerem por tanto
tempo numa condição de desesperança e desespero.
Quando estão a salvo
sobre a ponte, eles são recebidos por esses nas encostas onde a
grama e as árvores crescem, e ficam estupefatos pelo prazer, em vez
de se prepararem gradualmente. Pois ainda não estão acostumados ao
amor e sua doçura, depois das experiências adversas lá embaixo.
Eu disse que esta ponte
se assentava nas alturas; falava comparativamente. O local da chegada
é mais alto comparando com as regiões de escuridão lá embaixo.
Mas, de fato, é região baixa; o plano mais baixo sem dúvida, da
região celeste.
Você está pensando na
“garganta profunda”, ou precipício, “descritos” na Parábola.
Está quase de acordo com o que lhe descrevi, e você já teve esta
explanação em outro local. Também a razão pela qual estes que
chegam fazem isso, em vez de atingirem este lado por viagem aérea,
ou “vôo”, como talvez você chamaria, é porque eles não são
capazes de completar a jornada desta forma por causa de sua fraca
espiritualidade. Se eles tentassem isso, cairiam no vale escuro,
perdendo então seu caminho.
Não fui longe nestas
regiões escuras, mas fiz uma pequena parte do percurso, e a miséria
que vi foi mais que suficiente por bastante tempo. Quando eu
progredir no atual trabalho, e tiver por algum tempo ajudado estas
pobres almas lá do ponto avantajado daquela casa, e tiver permissão,
e provavelmente terei, irei mais adiante entre eles. Mas não é para
agora.
Uma coisa mais eu posso
dizer – já que por agora devemos parar. Quando eles surgem e
chegam até a outra extremidade da ponte, devo dizer-lhe que o
barulho que é ouvido, vindo por detrás deles, é horrível, e
fagulhas vermelhas incandescentes são vistas. O que causa isso, não
sou capaz de explicar claramente, mas nos dizem que os gritos, uivos
e lamentações, e também as fagulhas, são enviadas por aqueles que
ficaram para trás, que ficam enraivecidos por sua impotência de
recapturar o fugitivo, ou de retê-lo em sua fuga; porque o mal é
sempre impotente diante do bem, mesmo que o bem seja bem pequeno ao
final das contas. Mas não devo continuar mais por agora, e o que
estou dizendo agora não é o que vi pessoalmente, mas ouvi dizer,
que quer dizer, foi dado a você de segunda mão, mas é verdadeiro,
apesar de tudo.
Boa noite, meu querido
filho, e possa o Pai de Todos cobrir com Sua luz e paz a você e aos
seus. Possa você ver luz na Sua luz, e o brilho daquela luz seja de
uma aurora de paz.
Sábado,
27 de setembro de 1913.
Eu pediria aos meus amigos para que
tentassem impressionar-me mais vividamente...
Quase não é necessário
que tenhamos o cuidado de impressioná-lo mais vividamente do que já
fizemos, pois direcionamos as mensagens da forma como as desejamos
para ajudá-lo a conceber alguma coisa de nossas vidas, das condições
que por aqui prevalecem. Apenas acrescentaríamos algo que precisa
estar bem claro a você: é que quando chegamos até aqui, não
estamos em nosso elemento próprio, mas num elemento que é natural a
você e bruma para nós, e é através dela temos que trabalhar o
melhor que podemos.
Vocês
podem me ver enquanto estou aqui sentado escrevendo?
Realmente vemos você,
mas com olhos diferentes dos seus. Nossos olhos não estão
acostumados ao efeito da luz que vocês têm na terra. Nossa luz é
de um tipo diferente, uma espécie de elemento interpenetrante pelo
qual somos capazes de discernir o mais íntimo de sua mente, e é por
ela que conversamos – com você mesmo, e não, é claro, com os
seus ouvidos exteriores. Por isso é você mesmo que vemos, e não
seu corpo material, o qual é apenas uma vestimenta envolvente.
Quando o tocamos, entretanto, você não sente o toque fisicamente,
mas espiritualmente, e se deseja apreender nosso toque, terá que
mantê-lo na mente e olhar mais profundamente que o corpo e o cérebro
mecânico dele.
Você gostaria de saber
algo mais sobre a forma que trabalhamos aqui e as condições em que
usamos nossa vida. Não são todos os que vêm para cá que podem
entender uma das verdades elementares que é necessário assimilar
para se progredir: que Deus não é mais visível aqui do que na vida
terrena. Esperam encontrá-Lo pessoalmente, e ficam muito
desapontados quando lhes contam que esta é uma idéia errônea sobre
a forma com que Ele age sobre nós. A vida e a beleza d’Ele são
quase aparentes na terra para aqueles que conseguem olhar mais
profundo que a aparência externa. Assim é aqui também, com esta
modificação: a vida aqui é mais tangível, e mais fácil de ser
percebida e usada por aqueles que estudam sua natureza, e em tudo em
torno de nós ela palpita, e nós, estando num estado mais sensível,
podemos senti-la mais que quando estivemos na vida da terra. Ainda
mais, tendo dito isso de forma genérica, é verdadeiro dizer que, de
vez em quando, manifestações da Presença Divina nos são dadas,
quando por algum propósito em particular se faz necessário; e uma
dessas, passo a contar-lhe agora.
Fomos chamados a uma
parte desta região onde muitas pessoas deveriam estar reunidas, de
diferentes credos, fés e localidades. Quando chegamos, vimos que um
grupo de espíritos missionários havia retornado de seu período de
compromissos numa região fronteiriça da esfera terrestre, onde
estiveram trabalhando com almas recém chegadas que não percebiam
que haviam atravessado a linha demarcatória entre a terra e o mundo
espiritual. Muitos eram luminosos, mas foram trazidos ao local para
que se encontrassem conosco numa ação de graças, antes de seguirem
aos seus próprios planos. Eram de idade variada, já que os velhos
não haviam progredido ainda para tornarem-se jovens e vigorosos
novamente; os jovens não haviam atingido a idade plena. Todos
estavam reunidos com muita expectativa, e, conforme os grupos destes
novos companheiros nesta vida chegavam uns após outros, eles
observavam maravilhados suas faces e as diferentes cores de roupagens
usadas pelas várias ordens e hierarquias.
Aos poucos, ficamos todos
reunidos e então ouvimos um acorde de música que pareceu nos
invadir a todos, unindo toda esta multidão em uma só grande
família. Então vimos uma grande cruz de luz aparecer. Parecia estar
apoiada na encosta da grande montanha que delineava a planície e,
enquanto a observávamos, ela começou a se desmanchar em centelhas
de luz brilhante, e em pouco tempo percebemos que era uma enorme
falange de anjos de uma esfera mais alta que ficou ali, formando uma
cruz perto da montanha; tudo em torno deles cintilava em dourado, e
podíamos sentir, mesmo à distância, suas cálidas emanações
amorosas.
Gradualmente eles foram
ficando mais nítidos para a nossa visão, conforme tornaram-se mais
presentes neste ambiente inferior ao deles, e então vimos, parado na
parte onde está o cruzamento dos dois braços da cruz, um Ser maior.
Parecia que instintivamente todos sabíamos que era Ele. Era uma
manifestação do Cristo naquilo que conhecem como Forma Presente.
Ele ficou ali, silencioso
e estático, por algum tempo, e então levantou Sua mão direita ao
alto, e vimos uma coluna de luz descer e ficar ali enquanto Ele ali a
mantinha. A coluna era um caminho, e nele vimos outra falange
descendo e, quando chegaram até o braço levantado, ali pararam e
ficaram silentes com suas mãos cruzadas sobre o peito e cabeças
inclinadas. Então a mão moveu-se até que tivesse rodeado tudo até
embaixo, os dedos apontando a planície, e vimos a coluna estender-se
em nossa direção a meia altura, até que ligou o espaço entre a
montanha e a planície, e a extremidade dela ficou sobre a multidão
agrupada ali.
Ao longo desta coluna
caminhou a falange que se tornara visível por último, e pairaram
sobre nós. Abriram seus braços então, e todos vagarosamente
voltaram-se em direção à montanha, e suavemente ouvimos suavemente
suas vozes, uma parte declamando e outra cantando um hino de devoção
a Ele Que ali estava, tudo tão belo e tão sagrado que primeiramente
ficamos em silêncio. Mas depois nós também aprendemos suas
palavras e cantamos, ou declamamos com eles; já que, evidentemente,
era esse o propósito deles ao virem até nós. Enquanto cantávamos,
elevou-se entre nós e a montanha uma neblina de matiz azulado que
tinha um efeito muito curioso. Parecia agir como uma lente
telescópica, trazendo a visão d’Ele para mais perto, até que
pudemos ver a expressão de Sua face. Aquilo agia assim também nas
formas daqueles que ficaram bem abaixo d’Ele. Mas nós não
tínhamos olhos para eles, somente para a Sua face e forma, tão
graciosas. Não posso descrever a expressão. Era um misto de coisas
que as palavras não traduzem, a não ser em pequena parte. Havia
mesclados o amor, a piedade, a alegria e a majestade, e eu senti que
a vida era uma coisa muito sagrada, quando unia a Ele e a nós em um
só laço. Penso que os outros sentiram a mesma coisa também, mas
não nos falávamos, estando toda a nossa atenção voltada para a
visão d’Ele.
Então, lentamente a
neblina esvaneceu na atmosfera, e vimos a cruz na montanha e Ele como
antes, apenas visto com mais dificuldade; e os anjos que haviam se
aproximado de nós foram em embora, pairando agora sobre Ele. Então,
gradualmente tudo sumiu. Mas o efeito foi um sentimento muito
definido de Sua Presença muito atuante e perpétua. Talvez tenha
sido esse o objetivo desta visão ser oferecida aos recém chegados
que, apesar de não poderem ver tão claramente como nós que
estávamos aqui há mais tempo, mesmo assim puderam ver o suficiente
para que os encorajasse e lhes desse paz.
Ficamos por ali por mais
algum tempo, e então, silenciosamente, seguimos nosso caminho, não
conversando muito porque estávamos impressionados com o que havíamos
testemunhado. E também, depois de todas estas Manifestações sempre
havia muito em que pensar. É tão glorioso que ninguém pode captar
todo seu significado enquanto ela esteja acontecendo. Deve-se pensar
sobre ela gradualmente; e conversamos entre nós sobre tudo, cada um
dando suas impressões, e agrupando todas, descobrimos que uma
revelação havia sido feita, sobre algo que não entendíamos muito
bem. Naquele momento o que mais parecia haver nos impressionado foi o
poder que Ele tinha de falar a nós silenciosamente. Não pronunciara
uma só palavra, mas nos pareceu estarmos ouvindo Sua voz conversando
conosco a cada movimento que fizesse, e entendemos muito bem o que a
voz dizia, apesar de que realmente nada falara.
Isso é tudo o que lhe
posso contar por agora, portanto, adeus, querido filho, e possa você
ver, como realmente verá, um dia, o que nosso Senhor, tem guardado
para aqueles que O amam.
Segunda,
29 de setembro de 1913.
A idéia de ver as coisas
do ponto de vista de uma esfera mais elevada que a sua, é para que
se dê o verdadeiro valor quando se lê o que acabamos de escrever.
De outra forma, você estará sempre enganado pela aparência de
incongruência na associação das idéias que temos lhe passado. A
nós é perfeitamente normal unir a chegada de nosso Senhor com o
outro evento da formação daquela ponte que é a expansão da grande
região do precipício. O que lá é visto concretamente – isto é,
claro, concretamente para nós aqui - é apenas um fenômeno do mesmo
poder invisível pelo qual o Senhor e suas legiões angélicas
cobriram a abóbada celeste entre a esfera na qual agora nos movemos
e aquelas de onde vieram eles.
Você compreenderá que
aquela Manifestação foi, para nós, muito mais que uma
materialização é, para vocês. Foi a ligação entre dois estados
do Reino do Pai pela união no espaço através das vibrações mais
elevadas do que as que podemos usar nestas esferas mais baixas. Como
tudo acontece, nós apenas podemos imaginar, mas, ao passarmos de sua
esfera terrestre para esta, a conexão entre esta e a próxima não
parece estranha.
Desejamos que você
pudesse ser melhor esclarecido ao observar algumas das maravilhas de
nosso plano, pois então tudo lhe pareceria mais natural, tanto em
sua jornada na terra, quanto também quando vier para cá e nada soar
estranho em sua mente. A primeira coisa que veria é que a terra é o
embrião do céu, e que o céu é apenas a terra purgada e
aperfeiçoada; e em seguida veria que as razões são bem óbvias.
Para ajudá-lo neste
assunto, portanto, tentaremos contar-lhe de um sistema que temos aqui
para separar e discernir entre as coisas que importam e as de menor
importância. Quando estamos com alguma dúvida – e falo apenas de
nosso círculo imediato – vamos ao topo de algum edifício, ou
montanha, ou algum lugar elevado de onde possamos avistar as terras
distantes que nos cercam. Então, expomos nossas dificuldades, e
quando acabamos de completar o raciocínio, ficamos em silêncio por
um tempo, esforçando-nos por retratar tudo dentro de nós, da forma
como as coisas são. Depois de algum tempo começamos a ver e ouvir
algum lugar mais alto que o nosso, e vemos que as coisas importantes
são as que nos mostram, pela visão e audição, que ainda persistem
naquele plano mais elevado, naquelas esferas mais altas. Mas não
ouvimos ou vemos as coisas que não importam tanto, e é desta forma
conseguimos separar uma categoria de outra.
Parece tudo certo, querida, mas
poderia dar-me um caso mais específico, a fim de exemplificar?
Penso que sim. Tivemos
que lidar com uma dúvida, e não sabíamos como agir da melhor
forma. Foi sobre uma mulher que estava aqui por um bom tempo e não
parecia capaz de progredir muito. Não era má pessoa, mas parecia
ser insegura a respeito de si mesma e de todos os que a cercavam. Sua
principal dúvida era sobre os anjos – se eles eram todos de luz e
bondade, ou se alguns eram de um estado angelical e outros da
escuridão. Por algum tempo não conseguimos ver o porquê disto
estar perturbando-a tanto, já que tudo por aqui parecia ser amoroso
e brilhante. Mas descobrimos que ela tinha alguns parentes que haviam
vindo para cá antes dela, e a quem ela não vira e não conseguia
encontrar seu paradeiro. Quando descobrimos o principal problema
dela, discutimos entre nós e fomos ao topo da colina, colocando
nosso desejo de ajudá-la e pedindo que nos fosse mostrada a melhor
maneira. Uma coisa memorável aconteceu, tão inesperada quanto útil.
Quando ficamos ajoelhados
ali, todo o topo da colina pareceu tornar-se transparente e, enquanto
estávamos ajoelhados, com as cabeças inclinadas, enxergamos
diretamente através dela, e uma parte das regiões abaixo foi
trazida a nós muito nitidamente. A cena que vimos –e todos nós a
vimos, portanto não poderia ser ilusão – era numa planície
obscura, árida e nua, e, encostado numa rocha, estava um homem de
alta estatura. Diante dele, ajoelhada no chão, com as faces cobertas
pelas mãos, havia uma outra pessoa. Era um homem, e parecia estar
implorando algo ao outro, que continuava ali, com aparência de estar
em dúvida. Então, finalmente, num impulso súbito, ele se abaixou e
levantou em suas costas aquele que estava ajoelhado e o conduziu pela
planície, em direção ao horizonte onde refulgia a luz pálida do
crepúsculo.
Ele andou uma longa
jornada com aquela carga e então, quando chegaram a um lugar onde a
luz era mais forte, ele o largou e apontou um caminho a ele; então
vimos que este agradeceu muito e muito, então voltou-se e correu
rumo à luz. Nós o seguimos com nossos olhos, e então vimos que lhe
havia sido apontado o caminho da ponte, da qual já lhe falei, - na
extremidade que está no outro lado do precipício. Ainda não
entendíamos por que esta visão estava sendo mostrada a nós, e
continuamos seguindo o homem até que ele alcançou o enorme prédio
que está no começo da ponte – não para guardá-la, mas para
auxiliar os que chegam até ali, necessitando de descanso e ajuda.
Vimos que o homem havia
sido observado pelo guardião, pois um facho de luz sinalizou-o aos
que estavam embaixo, mostrando-o ao guardião seguinte, ao longo da
ponte.
E então a colina
reassumiu seu aspecto normal de novo, e nada mais foi visto por nós.
Estávamos perplexos,
mais que antes, e estávamos descendo a colina quando nossa Senhora
Diretora veio ao nosso encontro, e em sua companhia estava alguém
que parecia um alto servidor de alguma parte de nossa esfera, mas que
não havíamos conhecido ainda. Ela disse que ele veio para nos
explicar a instrução que acabáramos de receber. Aquele homem menor
era o marido da mulher a quem estávamos tentando ajudar, e
deveríamos dizer a ela que fosse até a ponte pois lhe seria dado
alojamento ali, onde então poderia esperar até que seu querido
chegasse. O homem mais alto que vimos era o que a mulher chamou de
anjo das trevas, já que ele era um dos mais poderosos espíritos nos
planos trevosos. Mas, conforme observamos, ele era capaz de uma boa
ação. Por que, então, perguntamos, ele ainda estava nas regiões
de trevas?
O servidor sorriu e
respondeu, “Meus queridos amigos, o Reino de Deus Nosso Pai é um
lugar muito mais maravilhoso do que podem imaginar. Vocês jamais se
defrontaram ainda com um reino ou esfera que fosse completo por si
mesmo, independente e separado dos demais. Nem há nenhum assim.
Aquele anjo trevoso mescla, em si, muitas esferas de conhecimento,
bondade e maldade. Ele permanece onde está, primeiro por causa da
maldade remanescente nele, que o incapacita para as regiões de luz.
Ele permanece ali também porque ele poderia progredir se quisesse,
mas mesmo assim ele não o deseja por enquanto, em parte por causa de
sua obstinação, e parte porque ele ainda odeia a luz, e acha que os
que partem para a horrível montanha são loucos, pois a dor e as
agonias são mais intensas ali, em razão do contraste com o que vêem
entre a luz e a escuridão. Então ele fica, e há multidões como
ele, a quem uma espécie de desespero embrutecedor e estonteante
impede de seguirem adiante. Também em suas horas de raiva e loucura,
ele é cruel. Ele torturou e maltratou algumas vezes este mesmo homem
a quem vocês viram com ele, e o fez com a crueldade de um fanfarrão
covarde. Mas, como viram, isto foi superado e quando o homem implorou
nesta última vez, alguma corda sensível no coração do outro
vibrou um pouquinho só, e, num impulso, temendo uma reversão em
suas intenções, liberou sua vítima que desejou empreender a
jornada, e apontou-lhe o caminho, sem dúvida pensando em seu coração
no quanto ele era estúpido e contudo, talvez, um estúpido mais
inteligente que ele, afinal de contas.”
Isso era novidade para
nós. Não percebêramos antes que havia bondade naquelas regiões de
trevas; mas agora vimos que era natural que assim fosse, ou, se todos
ali fossem totalmente ruins, nenhum deles jamais desejaria estar
conosco deste lado.”
Mas o que tem a ver tudo
isso com o discernimento entre as coisas que importam e as que têm
menor importância?
Tudo que é do bem é de
Deus, e a luz e a treva, quando aplicadas aos Seus filhos, não são,
e não podem ser, absolutas. Elas devem ser entendidas como
relativas. Há, como sabemos, muitos “anjos das trevas” que estão
na escuridão por causa de algum desvio em seu comportamento, algum
traço de obstinação que os previne contra o que é bom dentro
deles, fazendo esse efeito. E estes, um dia, podem nos ultrapassar na
estrada das eras, e, no Reino dos Céus, tornarem-se maiores que nós,
que hoje somos mais abençoados que eles.
Boa noite, meu querido
filho. Pense sobre o que escrevemos. Tem sido uma lição proveitosa
a nós, e seria bom que muitos em sua vida atual pudessem aprendê-la.
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